NÚMERO DE MORTOS NOS INCÊNDIOS MAIS MORTAIS DO SÉCULO NO CHILE CHEGA A 130.
Passa de 130 o número de mortos nos incêndios florestais do Chile. É a pior tragédiaem 15 anos no país. Os enviados especiais Bruno Tavares e Wellington Valssechi estão na região mais atingida: a região turística de Viña del Mar.
O fogo começou em uma área no Parque Nacional Peñuelas, uma grande reserva florestal. Rajadas de vento de até 80 km/h foram empurrando as chamas mais para dentro, para a área mais habitada da região.
Outros dois pontos contribuíram para os incêndios: o tempo seco, característico do Chile, e o forte calor. Na semana passada, houve uma onde de calor no país. Os termômetros chegaram, na região de Viña del Mar, a 40° C.
O número de mortos passa de 130 e ainda há desaparecidos nas regiões de Viña del Mar e Valparaíso. Os bairros mais atingidos foram os que ficam na periferia, mais afastados do centro – inclusive áreas de ocupação, com casas de madeira. Isso contribuiu para o grande número de vítimas.
Agora, os bombeiros trabalham para fazer um rescaldo, já que a maior parte dos focos de incêndio está controlada, e também para tentar localizar e identificar as vítimas.
Às 15h30, a equipe chegou a Santiago, capital do Chile. O resto da viagem, até Valparaíso e Viña del Mar, foi feito de carro pela estrada Rota 68. Uma viagem de, aproximadamente, 120 km. No trajeto, a equipe não viu nenhum tipo de aviso ou de alerta em relação aos incêndios. No caminho um comboio, de cerca de dez carros e um caminhão, com pessoas que iam até Valparaíso e Viña del Mar para prestar ajuda e socorro para desabrigados.
Na entrada da Reserva Nacional Lago de Peñuelas, os primeiros sinais dos incêndios. No meio da vegetação queimada, um helicóptero recolhia água para seguir no combate às chamas. O fogo varreu literalmente a parte mais alta de Viña del Mar. Em minutos, destruiu carros, casas. As telhas retorcidas e o metal que os moradores recolhem eram, até quatro dias atrás, parte das casas em uma comunidade.
Incêndios florestais não são raros nessa região do Chile, mas, desta vez, atingiram uma dimensão sem precedentes. Muitas vítimas só serão reconhecidas por meio de testes de DNA. Mais de 300 pessoas continuam desparecidas.
As zonas mais afetadas pelos incêndios estão nas províncias de Valparaíso e Quillota. O fogo se espalhou por 290 km² — uma área equivalente ao tamanho da cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Bairros inteiros viraram cinzas e mais de 15 mil moradias foram destruídas. Fotos de satélite mostram como era uma parte de Viña del Mar e como ficou, a mesma área, depois do incêndio.
Michelle Chavez perdeu dois avós, com quem dividia a casa. Conseguiu salvar os filhos de 5 meses e 10 anos. Álvaro descreve o horror pelo qual os moradores passaram.
Tudo o que a família Yanez conseguiu salvar agora está debaixo de uma lona. Eles não pretendem sair de lá, porque têm medo de roubos e saques.
Voluntários estão entregando alimentos para os moradores. Outra prioridade é aplicar vacina antitetânica e atender quem sofreu danos oculares pelas fagulhas. Veterinários tratam os animais feridos.
O Chile tem sofrido secas nos últimos 15 anos, que os cientistas atribuem diretamente às mudanças climáticas. O fogo começou na semana passada, quando uma forte onda de calor, intensificada pelo fenômeno El Niño, atingiu a região central do país.
Em algumas áreas, como Viña del Mar, os termômetros chegaram perto dos 40º C. Rajadas de vento de até 80 km/h fizeram as chamas se espalharem rapidamente.
A geografia é outro agravante. Toda a região da província de Valparaíso é cercada por morros e vales. Segundo especialistas, esses corredores funcionam como “aceleradores de vento” e dificultam o controle das chamas.
Em Las Palmas, na parte alta de Viña del Mar, equipe do Corpo de Bombeiros trabalha nesta terça-feira (6). Eles dizem que o fogo se alastrou por causa de um vento forte.
Brigadistas guardaram as ferramentas e voltam para casa. Eles passaram o dia inteiro no trabalho de combate a focos de incêndio que insistem em voltar para parte alta de Viña del Mar. Nesta quarta (7) cedo, voltam para lá para continuar esse trabalho.
Nos últimos dias, as autoridades disseram que em alguns desses focos foram acesos intencionalmente. O presidente, Gabriel Boric, visitou as áreas dos incêndios e afirmou que todas as hipóteses serão investigadas.
Os incêndios no Chile já são considerados um dos três mais mortais do mundo neste século — comparáveis aos que ocorreram na Austrália, em 2019, e no Havaí, em agosto de 2023. O governo chileno também afirma que esta é a maior tragédia nacional desde o terremoto de 2010, que matou mais de 500 pessoas.
Fonte: G1.globo.com .