100 dias sem esporte: como o coronavírus criou “novo ciclo” olímpico para atletas gaúchos

O novo coronavírus impactou – e ainda impacta – mundialmente. Prova disso foi a postergação da Olimpíada de Tóquio por um ano, para julho de 2021. Há mais de 100 dias sem esporte no Rio Grande do Sul, quatro atletas de quatro modalidades dividem angústias e indefinições, mas já se adaptam a um novo ciclo até os Jogos.

A Olimpíada e a Paralimpíada de Tóquio 2020 foram oficialmente adiadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) dia 24 de março, por causa da pandemia de coronavírus. A decisão teve como premissas resguardar a segurança de competidores, técnicos e de todos que participariam direta ou indiretamente das competições.

A RBS TV e o GloboEsporte.com ouviram um quarteto de promessas gaúchas: Mayra Aguiar, do judô; Almir Júnior, do salto triplo; Viviane Jungblut, da natação; e Luís Porto, da ginástica.

Mayra cresceu em contato com o tatame e o colo da mãe, a qual, por ser grupo de risco, se afastou da filha. Restaram os treinos online e a irmã Hellen como válvulas de escape para a judoca.

— O começo foi bem ruim porque a rotina muda inteira. O corpo gritando para fazer alguma coisa para gastar energia. Melhorou muito quando a gente começou os treinos online. A minha irmã está em casa comigo e também é judoca, coloca o quimono. Mas eu me empolgo muito em cima dela, coitada, mas ela me ajuda muito — relata.

Viviane conseguiu voltar às piscinas na segunda semana de maio por conta de flexibilizações nos decretos recentes da prefeitura de Porto Alegre.

— Meu preparador mandava treinos para fazer em casa. Claro que não é fácil. Nosso esporte depende muito da piscina. Alguns dias longe é impressionante como muda a nossa sensibilidade. Foi realmente um período bastante delicado — conta a nadadora.

Por praticamente três meses, Luís treinou por videochamada com a seleção brasileira de ginástica, aliando exercícios preventivos, de mobilidade e flexibilidade. Inclusive, tentou levar um aparelho para dentro de casa, mas o espaço dificultou.

— Até levei o cavalo para dentro de casa, ficou uns três meses na sala. Não tinha espaço para andar, mas tinha para ficar girando. Não tinha muito o que inventar, até para não quebrar a casa. Treinamos online, mas não é a mesma coisa. Você sente falta do ginásio, da competição — descreve.

Almir foi para a fazenda da família, em Mato Grosso. Fez treinos de reforço muscular e, quando algumas academias abriram, focou em atividades de força. O nível mesmo só aumenta em agosto, com objetivo de estar 100% para o Mundial Indoor de Atletismo, previsto para março de 2021.

— Vou começar a treinar forte de verdade em início de agosto. Só que, ao mesmo tempo, não posso ficar todo esse tempo parado. Então, a gente vai se recondicionando, vai voltando — explica o atleta.

Mudanças nos treinos

Com a flexibilização para treinamentos individuais, Mayra pode dividir os exercícios caseiros com musculação na academia da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa). As atividades no clube não podem durar mais de uma hora, sob uso de máscaras e outras medidas de um protocolo rígido de segurança sanitária.

— O nosso treinador físico não quis começar um trabalho muito forte, até para não baixar a nossa imunidade. Tenho um protocolo muito rígido, mas, conseguindo fazer isso, já me sinto muito melhor. Poder tirar aquela energia toda que a gente fique em casa — afirma Mayra.

“A gente está voltando aos treinos gradualmente e, assim, vai até chegar à rotina normal. Mas estamos conseguindo realizar treinos mais próximos do que eram” (Viviane Jungblut, nadadora)

Em meio aos treinamentos, Viviane Jungblut testa negativo para coronavírus — Foto: João Mattos Fotografia

Em meio aos treinamentos, Viviane Jungblut testa negativo para coronavírus — Foto: João Mattos Fotografia

Durante 100 dias, a impressão de alguns atletas foi também de que a vida entrou em compasso de espera. No período atual, as atividades não vão além de recondicionamento físico, para que os competidores evitem uma parada completa.

— Você não está treinando, está tentando fazer com que a sua perda de rendimento seja um pouco menor. O máximo que você consegue fazer é se recondicionar. Não é o bastante. A gente chega a treinar quatro, seis horas por dia — ressalta Almir.

“A gente nunca ficou tanto tempo fora do ginásio. Parecia que a vida tinha parado. Estava em completa inércia durante esses 100” (Luís Porto, ginasta)

Novo ciclo se aproxima

O dia 24 de julho de 2020 – daqui a um mês – era a data de início para a Olimpíada de Tóquio. Agora, o calendário avança um ano. Tempo suficiente para um novo ciclo de treinamento? Para três dos atletas ouvidos, sim.

— Sem dúvida. Agora vou ter que recomeçar tudo de novo, do zero praticamente, porque não posso cometer erros. Não posso tentar juntar uma temporada na outra — destaca Almir.

De máscara, Almir treina na Sogipa após paralisação durante pandemia do coronavírus — Foto: Diego Vara

De máscara, Almir treina na Sogipa após paralisação durante pandemia do coronavírus — Foto: Diego Vara

— É um novo ciclo, novo modo de pensar, de agir. Pelo menos, tudo que eu vivi nas piores dificuldades me fortaleceu muito. Sempre voltei mais forte. Espero que todo mundo venha mais forte, com mais clareza, mais luz, mais força — confia Mayra.

— Mais curto, mas um novo ciclo. Não dava para começar num gás todo. A gente ficou um bom tempo fora das piscinas e isso pode provocar alguma lesão — complementa Viviane.

Entretanto, o ginasta Luís Porto discorda:

—Não. É o maior ciclo olímpico que a gente já teve. Como os Jogos não foram cancelados, a gente segue se preparando para essa Olimpíada. Não podemos pensar em 2024 se a de 2020 não aconteceu. O ciclo não se encerrou.

Fonte: globoesporte.globo.com

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