Crise argentina deve impactar economia do RS
Reflexo do avanço do candidato ultraliberal Javier Milei nas eleições primárias na Argentina, o peso teve desvalorização de 18,3%, passando de 298,50 na sexta a 365,50 ontem. Sendo o país vizinho um importante parceiro comercial do Rio Grande do Sul, os setores da indústria, dos serviços e do agronegócio deverão ser afetados. Na avaliação do economista Gustavo Inacio de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUCRS, os produtos brasileiros terão menos espaço na Argentina em razão da perda de poder de compra das famílias e das empresas, mas isso deve ser sentido daqui três ou quatro meses.
“A desvalorização do câmbio já vem ocorrendo, mas em função do cenário político, ganhou peso”, disse. Outra consequência é que os produtos de origem argentina ficarão mais baratos que os locais, aumentando a competição com a indústria gaúcha. “É provável que teremos uma enxurrada de produtos argentinos no mercado gaúcho”, disse. O setor de serviços também pode ter redução. “Podemos prever que muitos brasileiros passem férias na Argentina ao invés de optar por um destino brasileiro”, observou.
Igualmente, o agronegócio deve ser influenciado fortemente, segundo o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. O efeito esperado é de um aumento das exportações de produtos como carnes, vinhos e, principalmente, leite do país vizinho para o Brasil. “Os produtos que nós importamos deles ficarão ainda mais baratos para nós, então vão ganhar uma competitividade artificial”, diz o economista.
Para a pecuária leiteira, essa perspectiva é preocupante porque o setor já vem sendo prejudicado pelo aumento das compras externas de países do Mercosul – de janeiro a julho deste ano, o Brasil importou cerca de 135,5 mil toneladas de leite, creme de leite e lácteos (exceto manteiga e queijo), um salto de 211,8% na comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com dados do governo federal. No caso de grãos, como arroz e trigo, explica Da Luz, o impacto deverá ser reduzido porque a Argentina enfrentou uma estiagem muito severa, o que limitou sua oferta.
Segundo o Departamento de Economia e Estatística, de janeiro a julho o mercado argentino comprou 693,3 milhões de dólares em produtos do Estado, 5,8% do total. Em todo o ano passado o valor era de 1,27 bilhão de dólares, 5,6% do total.
A lousa digital do Banco Nación, após a decisão do Banco Central, mostrava um preço do dólar de 365,50 pesos ante um fechamento de 298,5 pesos na sexta-feira, antes das eleições para definir os candidatos para as presidenciais de 22 de outubro. As coalizões contrárias ao governo peronista de Alberto Fernández defendem a desvalorização do peso e obtiveram quase 60% dos votos nas primárias. Os títulos em dólares e as ações argentinas em Wall Street caíram, em média, mais de 10%. O principal índice da Bolsa de Valores de Buenos Aires recuou 0,3%.
Fonte: Correio do Povo.