Patrícia Camillo, gerente da Serasa, afirma que esse movimento ocorre diante de um ambiente econômico com renda prejudicada, que não é suficiente para honrar os custos básicos do dia a dia. Isso preocupa, porque mostra a dificuldade enfrentada pelas famílias na hora de manter o bem-estar e planejar o orçamento.
— Começa a ficar muito mais difícil o corte de gastos. Uma coisa é cortar o supérfluo. Outra coisa é fazer isso no básico, que influencia no bem-estar da família no dia a dia. É preocupante nesse sentido. Começa a ter menos margem de corte dentro do orçamento — explica Patrícia.
A especialista cita o ciclo composto por inflação alta, que corrói a renda das pessoas, e juro alto, que dificulta o acesso a linhas de crédito, como alguns dos fatores que ajudam a explicar esse cenário de inadimplência que também sufoca o gasto com serviços básicos.
Freio na economia
Professor da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Inácio de Moraes afirma que, além de mostrar um orçamento limitado e prejudicado dos consumidores, a alta da inadimplência com gastos essenciais acaba refletindo em setores como o comércio. Com menos população com renda disponível e acesso ao crédito, o varejo de bens acaba pisando com mais força no freio.
— A preocupação é a ausência da possibilidade de contratação de crédito para aquisições adicionais. Esse é um tópico que afeta sobretudo as vendas de produtos duráveis — explica.
Ajuda e negociação
A autônoma Elisandra Rodrigues, 44 anos, é uma das pessoas que buscou ajuda na Defensoria Pública. Ela tinha uma dívida inadimplente de cerca de R$ 4 mil na conta de energia elétrica, que vinha se arrastando desde o fim do ano passado. Com o apoio do órgão, conseguiu renegociar o passivo e fazer o parcelamento em agosto.
— Estava me atrapalhando em tudo. Eu não conseguia nem dormir. A gente só trabalha pensando em pagar a dívida — diz.
Mesmo com a negociação da dívida, ela afirma que o orçamento segue apertado, principalmente com os custos básicos:
— Eu pago de um mês para o outro.
Para Elisandra, uma solução para diminuir a inadimplência das famílias seria criar negociações com valores mais acessíveis. Isso abriria espaço para uma organização melhor, diminuindo o peso da parcela no mês, segundo ela.
Para lidar com a situação
Conversas e postura
Dados da Serasa mostram que o total de pessoas inadimplentes voltou a subir em agosto deste ano no Rio Grande do Sul. São 3.547.700 pessoas com contas em atraso. Esse montante representa alta de 0,73% ante julho e de 6,54% na comparação com agosto de 2022.
Um dos primeiros passos é adotar uma postura de transparência com os credores. Isso facilita a busca por alternativas para quitar a pendência. Outro ponto é juntar esforços na família.
— A conversa no núcleo familiar sobre quais são as prioridades é muito importante. Para que todos se conscientizem da necessidade de se buscar renda e de não fazer extravagâncias ou não assinar contratos que podem comprometer o orçamento futuramente — diz Gustavo Inácio de Moraes, da Escola de Negócios da PUCRS.
Dicas e estratégias
- Seja transparente. Procure o credor, explique seu caso e busque alternativas para negociar o pagamento dessa dívida.
- A partir da sua renda, estipule o quanto você pode gastar. Faça uma planilha para visualizar melhor os custos do mês e organizar o fluxo de dinheiro que entra e sai.
- Envolva a família nessa organização do orçamento. Estabelecer as prioridades de gastos e as estratégias para monitorar as contas em conjunto facilita o processo.
- Evite contratar crédito consignado. O uso pode gerar bola de neve nas contas em atraso. Use esse mecanismo apenas em casos de urgência. Procure locais que ajudam na negociação de dívidas.
- Fonte: Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUCRS
Onde buscar auxílio
Câmara de conciliação – Defensoria Pública
- Presta apoio a cidadãos que buscam negociar e quitar dívidas sem a necessidade de processo judicial. O serviço é gratuito.
- Local: Rua Múcio Teixeira, 110, sala 505. O ideal é contatar via telefone ou e-mail para agendamento antes de ir ao local, para evitar fila.
- Contato: telefones (51) 2126-3045 e (51) 2126-3047 e e-mail nomelimpo@defensoria.rs.def.br.
Balcão do consumidor – UFRGS
- Serviço gratuito busca auxiliar pessoas no âmbito de questões ligadas ao direito do consumidor e de negociação de dívidas sem a necessidade de judicialização.
- Local: entrada da Biblioteca da ONU, no andar térreo da Faculdade de Direito, na Avenida João Pessoa, 80, no Centro Histórico da Capital.
- O serviço é oferecido às quartas-feiras, das 14h às 18h30min. Em razão de férias na universidade, está fechado agora e volta em 18 de outubro.
- Contato: informações e orientações sobre quais documentos levar em cada situação e agendamentos podem ser obtidas por meio do e-mail balcaodoconsumidor@ufrgs.br.
Balcão do consumidor – PUCRS
- Fruto de convênio entre PUCRS e Procon-RS, o serviço atende a cidadãos e empresas em assuntos sobre relação de consumo. Casos de superendividamento também podem ser encaminhados.
- Local: Prédio 8, sala 134 do Campus (Avenida Ipiranga, 6681, Capital). Atendimento é presencial e ocorre toda quarta, de 11h30min a 13h30min.
- Contato: mais informações podem ser acessadas por meio do telefone: (51) 3320-3634 ou via e-mail (direito@pucrs.br).
Fonte: GZH