PLANO BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DESTINARÁ R$ 23 BILHÕES AO SETOR

Foco de investimentos bilionários das principais potências internacionais, a inteligência artificial (IA) está na mira, também, do governo brasileiro. A perspectiva é de que essa área receba R$ 23 bilhões até 2028, destinados ao desenvolvimento de infraestrutura, capacitação, melhorias em serviços públicos, inovação empresarial e ao apoio ao processo regulatório do setor.
 
Entre as novidades, está a criação de um supercomputador de alta performance e ações para resolver problemas específicos em segmentos como saúde, educação, agricultura e meio ambiente.

Os recursos foram divididos em seis esferas:

  • Ações de Impacto Imediato – R$ 435,04 milhões
  • Eixo 1: Infraestrutura e desenvolvimento de IA – R$ 5,79 bilhões
  • Eixo 2: Difusão, formação e capacitação em IA – R$ 1,15 bilhão
  • Eixo 3: IA para melhoria dos serviços públicos – R$ 1,76 bilhão
  • Eixo 4: IA para inovação empresarial – R$ 13,79 bilhões
  • Eixo 5: Apoio ao processo regulatório e de governança da IA – R$ 103,25 milhões

No Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, o investimento de R$ 23 bilhões é, na visão de Rafael Kunst, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), “bem considerável”.

— Pessoalmente, (o valor) me surpreendeu um pouco, eu esperava um investimento até um pouco menor. Mas é bem positivo que se esteja pensando seriamente nessa tecnologia, que é fundamental hoje em dia. Estávamos um pouco atrasados em relação ao resto do mundo nessa questão de ter um plano. Já fazíamos inteligência artificial tanto no nível de academia quanto no uso por indústrias e empresas, mas é importante que o Estado tenha um plano para guiar esses investimentos — analisa Kunst.

As iniciativas já em andamento ou de curtíssimo prazo são as de impacto imediato, destinadas a resolver problemas específicos nas áreas de saúde, agricultura, meio ambiente, indústria, comércio e serviços, educação, desenvolvimento social e gestão do serviço público. Há, por exemplo, projetos de uso da IA para a otimização de diagnósticos no Sistema Único de Saúde (SUS), cálculo do peso bovino por câmera 3D, localização de espécies vegetais no bioma amazônico, chatbots, controle de frequência de estudantes, mapeamento de demandas de pessoas em situação de vulnerabilidade e classificação e julgamento de processos administrativos fiscais.

A criação do supercomputador de alta performance será abrangida pelo Eixo 1, com expectativa de que o equipamento seja um dos cinco mais potentes do mundo e impulsione a pesquisa em IA no país. Além da infraestrutura, também é planejada a criação e o treinamento de modelos de linguagem em português, a fim de reduzir vieses e garantir a soberania dos dados brasileiros, algo que, potencialmente, é enfraquecido quando são usados modelos de linguagem em inglês, por exemplo, e elaborados em outro país.

— O aprendizado de máquina que, por exemplo, permitiu a criação do ChatGPT, demanda muito poder computacional para fazer o treinamento desse modelo para aquilo para o que ele precisa ser utilizado, e esse poder computacional envolve custos bastante elevados. Com o investimento em pesquisas ou na criação de modelos por empresas que utilizam esse computador, há um potencial de reduzir esses custos — observa o docente da Unisinos.

O Eixo 2 visa a criação de laboratórios e a formação de educadores na área de IA, algo que falta não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Há, ainda, a previsão de oferta de bolsas de pesquisa no setor.

Já no Eixo 3, o objetivo é melhorar os serviços públicos por meio da inteligência artificial. Entre as 19 ações previstas, estão a elaboração de uma plataforma de IA do governo federal, a capacitação de servidores públicos para a tecnologia, a criação de uma nuvem gerida exclusivamente por órgãos ou empresas públicas e o uso desse recurso no aperfeiçoamento da gestão em diferentes aspectos.

O Eixo 4 terá o maior montante financeiro investido – serão R$ 13,79 bilhões destinados à montagem de, por exemplo, centros de processamento de dados alimentados por fontes de energia renováveis, a serem utilizados para o desenvolvimento de soluções relacionadas à inteligência artificial. Está prevista, ainda, a criação de um fundo de investimentos para apoiar startups desse setor, o que inclui, por exemplo, a oferta de bolsas de complementação salarial de profissionais da área tecnológica.

— A ideia básica é evitar que o pessoal saia do Brasil e vá trabalhar em outros países, o que tem acontecido bastante nos últimos anos, tanto do ponto de vista acadêmico quanto do ponto de vista de empregos. Se pensarmos principalmente na cotação do dólar em relação ao real hoje, acaba sendo bem atrativo trabalhar no exterior, e, em muitos casos, é um trabalho remoto: a pessoa recebe em dólar e está no Brasil — resume Kunst.

Por fim, o Eixo 5 tem o menor investimento, de R$ 103,25 milhões, voltados para o apoio ao processo regulatório e de governança da IA. Com a popularização do uso dessa tecnologia, questões éticas relacionadas a diferentes áreas têm sido debatidas – há dúvidas sobre como esses modelos tomam decisões, se são confiáveis e como assegurar a transparência no funcionamento dos algoritmos que estão por trás desses sistemas. Ainda nesse eixo, o governo pretende montar o Observatório Brasileiro de IA, para acompanhar o desenvolvimento da tecnologia no Brasil, além de uma rede de pesquisas para apoiar os sistemas de governança ligados à inteligência artificial.

 

Fonte: GZH.

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