Preço baixo e dificuldades na produção ampliam debandada no setor leiteiro do RS

Nos últimos anos, um número crescente de produtores de leite gaúchos enfrenta um dilema: manter o ofício apesar de dificuldades como pouca renda, trabalho exaustivo e concorrência com importados, ou romper com tradições familiares de décadas e abandonar de vez a atividade.

Desde 2015, 60% dos trabalhadores rurais do setor escolheram a segunda opção e decidiram trocar o campo pela cidade ou apostar em outro tipo de lida, conforme um relatório socioeconômico divulgado pela Emater neste ano. Entre as razões mais comuns para a diáspora leiteira no Rio Grande do Sul estão o preço baixo por litro, dificuldade de conseguir mão de obra, alto custo de produção e desinteresse das novas gerações em assumir a sucessão familiar do negócio.

A localidade de Linha Sítio, no interior de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, ilustra a debandada que reduziu o número de estabelecimentos de 84,1 mil para 33 mil em apenas oito anos. Em uma vizinhança onde havia cinco propriedades com criação de gado leiteiro para atender à indústria, apenas uma mantém as vacas no cercado. As demais passaram a se dedicar a outros tipos de cultura, como plantio de grãos.

Um dos desistentes é o agricultor Maciel Görgen, 43 anos, que deixou de lado uma tradição familiar de meio século no setor lácteo para focar no cultivo de milho, soja e trigo.

— Como meus pais já têm certa idade, queriam deixar a propriedade para os filhos. Mas minha irmã mais velha e um cunhado que me ajudavam saíram, foram para a cidade, e acabei ficando sozinho. Minha mulher é professora, também não tem como ajudar, e fica inviável trabalhar 365 dias por ano, sozinho, tendo pouco retorno. Acordar todo dia antes das 5h para tocar tudo isso sozinho é muito difícil — justifica Maciel.

Em maio do ano passado, as últimas vacas deixaram o local e encerraram uma história iniciada em 1974, quando o pai de Maciel, José Silvério Görgen, comprou cinco animais em 24 prestações. Ao longo do tempo, o rebanho chegou a somar uma centena de bichos, e o trabalho manual de ordenha foi substituído por equipamentos eletrônicos que hoje se encontram parados e acumulando mofo nas mangueiras por onde chegaram a correr mil litros de leite a cada dia.

— Se o preço fosse bom, talvez até valesse a pena seguir lutando, talvez investir para facilitar o trabalho. Mas, do jeito que está, a gente trabalha só para trocar moeda. Recebe mais ou menos o que gasta para produzir — completa Maciel.

Fonte: GZH.

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