SETOR PRODUTIVO DO RS RECEBEU MENOS DE 30% DO CRÉDITO EMERGENCIAL ANUNCIADO APÓS ENCHENTE

Cem dias após o início do aguaceiro que devastou cidades e varreu negócios no Rio Grande do Sul, a ajuda financeira ao setor produtivo chega em ritmo distante do necessário para a retomada do Estado. Apenas 26,38% do crédito anunciado para empresas foi pago, segundo dados do Painel da Reconstrução, do Grupo RBS.

A partir desta quarta-feira (7), Zero Hora publica uma série de reportagens que mostra como está a reconstrução do Estado em oito áreas essenciais.

Rigor excessivo nos critérios para acesso a linhas de financiamento e falta de flexibilização são apontados como os principais fatores que afastam a ajuda dos empresários que precisam desse socorro com agilidade. Ajustes pontuais destravam alguns pontos do repasse, mas longe de dar a vazão necessária aos recursos.

Desde o início da enchente, foram anunciados R$ 58,887 bilhões em linhas de crédito para auxiliar empresas afetadas pela inundação no Estado. Desse total, apenas R$ 15,533 bilhões foram pagos, conforme dados do painel, ferramenta abastecida pelos portais de transparência estadual e federal.

O dado leva em conta linhas de crédito e os recursos novos usados para cobrir os principais auxílios anunciados.

O levantamento aponta que os maiores valores estão no âmbito da União. Mesmo que esteja com a classificação “paga”, não significa necessariamente que o dinheiro já chegou às empresas — parte dos dados do portal da transparência mostra apenas o que foi transferido para os bancos que operam as linhas de crédito.

Dois dos principais aportes destinados ao Estado simbolizam o ritmo lento na transferência do dinheiro para a operação das empresas. No BNDES Emergencial, 53% dos R$ 15 bilhões foram transferidos a instituições bancárias dois meses após o anúncio do programa — esse percentual mostra o que foi repassado para os bancos, sem detalhamento do que foi contratado.

O vice-presidente de micro e pequenas empresas da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Douglas Ciechowicz, afirma que uma das principais barreiras no acesso ao crédito está nos critérios de garantias. Como muitos empreendimentos tiveram as principais garantias arrastadas pela força da água, ficam de fora do benefício, segundo o dirigente:

— A gente tem visto empresas que perderam tudo e tinham o imóvel como garantia. Aquele prédio, que estava avaliado em R$ 2 milhões, R$ 1 milhão, não está valendo mais nada. Então, essa garantia se foi. Então, ela precisa de um fundo garantidor que vai proteger o banco e também a empresa na questão dos não pagamentos.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Claudio Bier, também toca no ponto das garantias. Na avaliação dele, o governo e os bancos precisam flexibilizar as exigências na hora de conceder o crédito às empresas afetadas. Segundo o dirigente, o evento extraordinário que atingiu o Estado provoca a necessidade de medidas excepcionais de auxílio.

— Até agora, nós não tivemos essa resposta positiva. Tem saído esse crédito, muito a conta gotas, e para empresas que têm um cadastro muito, muito saudável e que realmente podem tomar crédito em qualquer hora, em qualquer momento. E a finalidade nossa era pedir para as empresas que realmente estão necessitando.

Já no Pronampe Solidário, apenas 9,21% do total anunciado pelo governo federal chegou aos cofres dos empreendimentos afetados. Esse percentual leva em conta o que foi contratado.

O presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, afirma que a burocracia para ter acesso às linhas de crédito segue sendo um dos principais problemas. O tempo de espera para o pagamento após a contratação também trava a recuperação das empresas, segundo o dirigente. Além disso, Bohn destaca o excesso de garantias e exigências fiscais para se enquadrar nos programas, que travam o processo para pequenas empresas:

— É tudo muito difícil. Mas para os pequenos é pior. Porque eles continuam exigindo CND (certidão de regularidade fiscal). Muitos atrasaram o recolhimento de impostos porque não conseguiram pagar.

“A regularidade fiscal devia ser, nesse momento, esquecida. Tem que liberar um pouco essa questão burocrática de regularidade fiscal.” Luiz Carlos Bohn – presidente da Fecomércio RS.

No agro, o principal pedido ocorre no âmbito da repactuação das dívidas rurais. Na semana passada, o governo federal publicou medida provisória (MP) que oferece desconto para liquidação ou renegociação de parcelas de operações de crédito rural.

 

Fonte: GZH.

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