MP-RS investiga desvio de R$ 35 milhões de grandes empresas e lavagem de dinheiro com bitcoins

O Ministério Público do Rio Grande do Sul cumpre na Região Metropolitana de Porto Alegre, na manhã desta quinta-feira (25), 13 mandados de busca e apreensão contra uma organização criminosa que, segundo as investigações, burlou o esquema de segurança digital de um banco. O grupo desviou R$ 35 milhões de uma grande indústria e da bolsa de valores, e lavou dinheiro com bitcoins.

Segundo o MP, nos dias 15 e 16 de abril, foram desviados R$ 30 milhões da conta bancária de uma grande indústria em 11 transferências eletrônicas para seis empresas localizadas em Porto Alegre, Cachoeirinha, São Paulo e Porto Velho, em Rondônia.

Conforme a investigação, o dinheiro foi desviado em operações realizadas por meio de uma técnica sofisticada, realizada por outra empresa, com sede em Cachoeirinha, correntista do mesmo banco.

Como funcionou o crime

O furto iniciou com o acesso normal à conta bancária, pelo internet banking, mediante login e senha de um dos investigados. Ao final da operação, a conta indicada ao sistema para a efetuação do débito de R$ 30 milhões não foi a logada inicialmente, mas, sim, a conta da grande indústria.

“Seria como se uma conta bancária corporativa tivesse invadido outra conta similar para emitir ordem de débito ao banco em favor de terceiros”, descreve o promotor Flávio Duarte.

Uma empresa de Porto Alegre recebeu o maior montante do furto, R$ 14 milhões. Três empresas sediadas no estado de Rondônia receberam juntas outros R$ 14 milhões. Além disso, uma empresa de São Paulo obteve R$ 1 milhão, mesmo valor recebido pela empresa de Cachoeirinha, que efetuou o desvio.

As investigações indicaram que se trata de uma organização criminosa integrada pelo correntista máster da conta bancária da empresa de Cachoeirinha, que comandou os desvios e, até pouco tempo, integrava o quadro social da empresa beneficiada com R$ 1 milhão no esquema.

Recentemente, a empresa teve alteração no quadro societário, ingressando uma pessoa com padrão de vida incompatível com as operações da empresa, provavelmente, um laranja, segundo do MP.

Além disso, foram identificadas três ocorrências policiais, em 2019 e 2020, contra o investigado, por ameaça e apropriação indébita. O relato das vítimas é similar: teriam sido induzidas em erro a aplicar recursos, sem qualquer retorno, em uma empresa de investimentos.

Lavagem de dinheiro com bitcoins

Conforme o promotor, a própria utilização de empresas para dissimular os repasses já poderia configurar alguma modalidade de lavagem de dinheiro. Mas, além disso, a condição de alguns dos destinatários originais indica a possibilidade de que os repasses financeiros tenham persistido para terceiros (pessoas físicas e jurídicas).

Em paralelo à apuração criminal do MP, a instituição bancária, que arcou com o prejuízo financeiro causado a sua cliente, buscou apurar o destino dos valores furtados. Foi descoberto, então, que uma exchange (corretora que faz intermediação de negociação para compra e venda de ativos virtuais) foi destinatária, no dia 16 de abril de 2020, de R$ 11 milhões, destinados à aquisição de bitcoins, vindos justamente de três das cinco empresas beneficiadas com as transferências eletrônicas.

No dia anterior, outros R$ 7.764.927 já haviam sido repassados por duas das empresas e revertidos em bitcoins, totalizando, assim, R$ 18.844.927.

O promotor Flávio Duarte destaca que é difícil localizar o patrimônio obtido com o crime que venha a ser revertido em criptoativos. Não há instituição alguma encarregada de realizar ou monitorar as transações. Existem somente as exchanges que atuam, geralmente, como intermediárias entre aqueles que compram e vendem bitcoins.

Além disso, as transações de criptoativos se aproximam do anonimato, já que a privacidade é uma das diretrizes básicas desse mercado.

“Esse cenário beira a clandestinidade e assim se caracteriza como um ambiente propício para a lavagem de capitais”, afirma.

Segundo furto

Durante as investigações, foi revelada uma nova operação de lavagem de capitais, que consiste na aquisição clandestina de bitcoins pelas mesmas pessoas.

Em novas investigações, foi revelado que o mesmo modo de operar empregado na subtração dos R$ 30 milhões foi utilizado também, no dia 16 de abril, contra outra empresa correntista, responsável pela bolsa de valores, lesada a partir de uma transferência bancária clandestina no montante de R$ 5 milhões.

O material apreendido será analisado para responsabilização dos integrantes da organização criminosa, a recuperação dos valores subtraídos, bem como para identificação da participação de outras pessoas.

Fonte: g1.globo.com

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